Mais sono, menos empatia: noites insones diminuem altruísmo, aponta pesquisa

Se você tem o hábito de abrir a porta do elevador para o seu vizinho, pode ser que já tenha notado o que a ciência comprovou: noites mal dormidas interferem nos atos de gentileza do dia a dia. 

Um estudo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, nos Estados Unidos, mostrou que a insônia tem reflexos diretos no comportamento humano, principalmente naqueles relacionados ao altruísmo.

No relatório, publicado pelo periódico PLOS Biology, os pesquisadores reuniram informações de três diferentes estudos que avaliaram o impacto da falta de sono na capacidade e na vontade de ajudar os outros.

Os métodos escolhidos foram:

– análise de exames de imagem;
– questionários online; 
– varredura do banco de dados de doações para a caridade no país.


Os resultados levaram os pesquisadores à reflexão. “Estamos começando a ver cada vez mais estudos, incluindo este, onde os efeitos da perda de sono não apenas param no indivíduo, mas se propagam para aqueles ao nosso redor”, disse Ben Simon, cientista e líder da pesquisa.  

“Se você não está dormindo o suficiente, isso não prejudica apenas o seu próprio bem-estar, isso prejudica o bem-estar de todo o seu círculo social, incluindo estranhos”, reforça Ben.  

Prova física


A dificuldade de se colocar no lugar do outro após um quadro de insônia foi comprovada por imagens. 

24 voluntários fizeram uma ressonância magnética funcional em dois cenários distintos: após dormirem oito horas completas e depois de uma noite sem dormir. 

As imagens revelaram que as áreas do cérebro conhecidas por formarem a Teoria da Rede Mental – que explica o sentimento de empatia – são menos ativas quando não há descanso. 

“Quando pensamos em outras pessoas, essa rede se engaja e nos permite compreender quais são as necessidades dos outros: no que eles estão pensando? Eles estão sofrendo? eles precisam de ajuda?”, detalha Ben Simon. “No entanto, essa rede foi prejudicada quando os indivíduos estavam sem dormir. É como se essas partes do cérebro não reagissem quando estamos tentando interagir com outras pessoas depois de não dormir o suficiente”, destaca. 

Conclusão similar à encontrada nas respostas dos questionários online aplicados ao longo de quatro noites com cem voluntários. 

Segundo as respostas foi possível concluir que quanto menos horas dormidas, menor o desejo de ajudar o próximo.  


Comprovação numérica 


Não contentes, os pesquisadores foram além. Eles fizeram uma espécie de varredura do banco de dados de doações para caridade entre os anos de 2001 e 2016 nos Estados Unidos. 

3 milhões de doações foram analisadas. O critério adotado foi o período do ano em que passava a valer o horário de verão e que os doadores sentiam o impacto no relógio biológico ao perder uma hora potencial de sono. 

Resultado? 10% a menos de doações!  

“Mesmo uma ‘dose’ muito modesta de privação do sono – aqui, apenas a perda de uma única hora de oportunidade de sono ligada ao horário de verão – tem um impacto muito mensurável e muito real na generosidade das pessoas e, portanto, como funcionamos como uma sociedade conectada”, avaliou o professor de psicologia e pesquisador Matthew Walker. 

Bom lembrar


Além de estar associada ao aumento do risco de doenças cardiovasculares, depressão, diabetes, hipertensão, entre outras patologias, a insônia causa também mudanças comportamentais. 

Estudos, como o citado neste artigo, comprovam que o altruísmo é afetado pela falta de sono. 

Horas a menos de descanso levam à diminuição da vontade e da capacidade de se colocar no lugar do outro, comprometendo a vida em sociedade. 

Por isso, vale lembrar: o sono, mais que descanso, é pré-requisito para a saúde e para o bem-estar na vida como um todo

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