Entenda como a proteína é absorvida, e porquê a digestão causa controvérsias!

Healthy food high in protein. Meat, fish, dairy products, nuts and beans. Top view

A queixa é recorrente e não é exclusividade de determinada faixa etária.

Embora seja mais comum em pessoas mais velhas, a dificuldade em se sentir leve e disposto após uma refeição caprichada de proteína é fator preponderante para excluir ou deixar de lado o nutriente na dieta. 

“Não como carne à noite” ou “eu evito porque me sinto pesado” são frases repetidas por quem já identificou que a combinação entre a fonte proteica e o pH do estômago não estão alinhados. 

“É preciso um ambiente ácido para a transformação do pepsinogênio em pepsina, – etapa fundamental do processo digestivo.

Isso acontece porque nós somos proteicos e se isso não acontecesse, a gente se ‘autodigeriria’.

Mas o grande problema é ter esse pH normal, porque ao longo do envelhecimento há a redução na produção do ácido clorídrico que auxilia esse processo”, detalha a médica especialista em gastroenterologia, Denise de Carvalho. 

A escolha da proteína

Não basta comer. A proteína ingerida precisa passar pelo processo de digestão para, então, ser absorvida pelo organismo e se transformar em combustível para as diversas funções que desempenha no corpo. 

Só que a capacidade de digestão varia de acordo com cada indivíduo e a explicação está na composição da fonte de proteína escolhida. No caso da carne, é a película protetora da fibra muscular, chamada de tecido conjuntivo, que pode ser o ponto fraco do estômago. 

Ou ainda, quando a opção é pelas proteínas vegetais, o obstáculo para o sistema digestivo está na celulose, que não é digerida. 

Em ambos os casos, esses compostos formam uma espécie de carapaça dentro do estômago, que se vê obrigado a produzir mais ácido gástrico para tentar absorver o alimento. Sem sucesso, o resultado são sintomas de mal estar, como dor abdominal e gases. 

Os sinais emitidos pelo corpo servem de lembrete: a fonte de proteína em questão pode não ser a ideal para o seu organismo. 

Imagem: pessoa no celular enquanto faz a refeição – com expressão tensa. 

Influência externa

O alerta pode ser pista também de que as doses de estresse do seu cotidiano estão acima do que deveriam. Com o cortisol nas alturas, não sobra foco para que seu estômago trabalhe na absorção dos nutrientes. 

“Quando a gente está passando por processos de estresse, a gente tem uma hiper estimulação dos sistemas simpático adrenal e do eixo hipófise pituitária adrenal. Esses dois eixos, trabalhando em conjunto, levam a um redirecionamento energético do nosso corpo para as atividades que são essenciais à vida – para o coração, para o cérebro, para o pulmão e para os músculos, no caso de que se eu tiver que correr daquilo que me afeta. Já a digestão, ela não é prioridade nesse momento”, explica a especialista. 

Por isso, em situações estressantes, a tendência é que a digestão da proteína – e  de outros nutrientes – cause a sensação de empachamento. 

Mais é menos

Mastigar o alimento pelo menos trinta vezes antes de engolir não apenas, comprovadamente, aumenta a saciedade, como também facilita a capacidade de digestão. 

Para isso, a recomendação é se manter no momento presente, aplicando o conceito de mindfulness – a atenção plena – às refeições. Isso porque 20% da digestão é instigada pelo cérebro, como quando o garçom passa por você com o prato da mesa vizinha e sua boca começa a salivar. Essa reação tem nome: fase cefálica, estágio da digestão em que o organismo produz  um quinto das enzimas que usará – e que farão falta caso você esteja distraído.

Na reação em cadeia do organismo, pular etapas pode ser perigoso e o custo é a saúde. Doenças como a síndrome do intestino irritável são o reflexo de refeições feitas às pressas, com mastigação reduzida e sobrecarga do sistema digestivo. 

O custo da correria

Pedaços grandes – de fontes de proteína ou de qualquer outro alimento – obrigam o estômago a trabalhar mais, dificultando a absorção dos nutrientes, que culmina na desnutrição. 

Outra resposta fisiológica é o impacto da exposição da mucosa intestinal a esses pedaços grandes de alimento. Segundo Denise de Carvalho, as moléculas são vistas como um agente agressor que precisa ser combatido. 

“Isso é a origem das alergias, sensibilidades múltiplas que a gente vem a ter em crianças hoje. Primeiro eu não posso comer isso, depois não posso comer aquilo… Então a dieta vai ficando cada dia mais restrita e é maior ainda o potencial de desnutrição”, pontua a especialista em gastroenterologia.

Na contramão de análises isoladas de sintomas oriundos de problemas no sistema digestivo, Denise sugere voltar os olhos para o estômago antes de outras especialidades. 

“Digerir deveria ser prioridade para emagrecer, para que eu tenha uma tireóide melhor, um cérebro melhor, que também recebe mais nutrientes para seus neurotransmissores. Se a gente olhasse para a digestão, poderia ter uma melhora para todas as condições ao mesmo tempo”, conclui. 

Para lembrar 

Essenciais para inúmeras funções no organismo, as proteínas podem ser encontradas em diversas fontes animais e vegetais. No entanto, não basta incluir os alimentos na dieta. É preciso que haja compatibilidade com o organismo – o que varia de indivíduo para indivíduo. 

A recomendação é consultar um especialista para traçar o melhor plano nutricional de acordo com as especificidades do seu organismo para garantir a maior absorção proteica. 

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