Nas semanas que precedem a fecundação do óvulo pelo espermatozóide, no primeiro passo para a geração de uma vida, a imunidade do indivíduo já começou a ser criada.
Quem defende essa tese é a pediatra Bruna Briones, mas o centro desse conceito já está amplamente consolidado na ciência.
É que o comportamento dos pais e, em especial, da mãe do bebê, pode ser determinante para entender a capacidade de se proteger que se desenvolve já nos primeiros dias de vida.
Do parto vaginal à ‘golden hour’, passando pelo colostro, pela introdução alimentar e pelo sono e funcionamento do intestino das crianças, as decisões das mães e pais continuam impactando na imunidade dos filhos ao longo da infância e adolescência.
Estudos recentes* (A) conduzidos na Espanha e na Holanda mostraram que momentos de estresse vividos pelas mães ao longo da gravidez deixam marcas hormonais com picos de cortisol no cabelo dos fetos, reforçando a ideia de que o bebê vive a vida da mãe ao longo da gestação, para o bem e para o mal.
Não é à toa que o Ministério da Saúde recomenda a suplementação profilática de ferro e ácido fólico para todas as gestantes brasileiras.* (B)
“De fato, a gente suplementa a criança desde o útero, com uma mãe bem suplementada. Quando ela sai, ela vai ser alimentada através do leite materno, a gente vai suplementar essa mãe também porque uma mãe anêmica não produz leite em boa quantidade, então a gente suplementa, vê como tá o estoque de ferro, a ferritina, a hemoglobina, vitamina D, o ômega 3 a gente sempre suplementa também e vamos suplementar essa criança”, afirma Bruna.
Bruna explica que o contato do bebê com o peito na primeira hora de vida, a ‘golden hour’, e também o parto vaginal, quando possível, podem promover trocas que estimulam a imunidade do bebê a se fortalecer.
Mas o grande trunfo maternal para a imunidade de um filho é o leite materno, alimento altamente nutritivo e riquíssimo em um tipo importante de anticorpo, a imunoglobulina A, ou IgA secretora.
“O colostro, que é o primeiro leite que a mãe produz, vem em pequeníssima quantidade, até porque o estômago do bebê tem 5ml de capacidade, ele não precisa de muito leite. Mas ele vem com uma IgA secretora muito grande, que vai proteger realmente, vai no intestino e vai ajudar a imunidade. IgA secretora a gente tem muito em nosso sistema respiratório e em nosso intestino”, conta ela.
O melhor alimento do mundo
Recomendado pela Organização Mundial da Saúde como fonte única de nutrição até os seis meses de vida, o leite materno é indubitavelmente o alimento mais completo que existe.
E se até o primeiro aniversário ele impera como protagonista, depois ele passará a ser coadjuvante e seguirá sendo valioso para reforçar a imunidade da criança, inclusive pela dose de afeto no ato de amamentar.
Na hora da introdução alimentar, uma fase extremamente desafiadora para diversos pais, a dinâmica começa a mudar. Aguardada no consultório dos pediatras desde os três meses, como conta Bruna, essa etapa do desenvolvimento da criança costuma acontecer aos seis meses. Dependendo da mãe e do bebê pode ser adiantada ou atrasada.
Mas até que de fato a comida sólida passe a ser a principal fonte nutricional, muita experimentação acontece.
A pediatra chama o momento de ‘apresentação alimentar’, em vez de ‘introdução alimentar’. É uma forma de aliviar o peso da responsabilidade que os pais têm sobre uma suposta necessidade de fazer os bebês comerem muito e de tudo.
Nessa etapa, a médica sugere começar com frutas, que têm sabor mais adocicado e portanto mais próximo do leite materno, mas ressalta que para cada menino ou menina, a atenção individualizada é muito mais eficaz.
Tem, mas acabou
E se dos alimentos vem a base de uma nutrição que dará matéria prima para a imunidade, antes do pleno equilíbrio dos nutrientes é preciso completar os estoques.
A suplementação infantil até hoje é motivo de divergências entre governos, entidades e sociedades médicas. Há discussões sobre quais suplementos usar e em qual quantidade. Bruna sugere que, aos seis meses, toda criança já deveria estar sendo suplementada com vitaminas A, D e ferro, mas vale um papo com o pediatra para saber exatamente quando e como começar.
Uma das ferramentas que são usadas para analisar a imunidade e a presença de agressores em crianças é o exame coprológico funcional, um teste feito nas fezes para identificar a presença de fungos, bactérias e microorganismos em geral.
Essa, aliás, é uma arma eficaz para combater a chamada ‘fome oculta’, quando a criança parece estar bem nutrida, alimentada e com boas medidas corporais, mas na verdade tem alguma deficiência que não aparece à olho nú.
De pai pra filho
O acompanhamento com pediatra e nutricionista especializado ao longo da infância e adolescência, o check up de rotina, a alimentação equilibrada, a suplementação na hora certa, a amamentação se possível até os dois anos de vida, a parcimônia no uso de antibióticos, o carinho e a consciência dos limites na hora de proteger a criança das impurezas do ambiente em que vive são algumas das dicas que podem ajudar a reforçar a imunidade de bebês, crianças e adolescentes.
Para ouvir
A pediatra Bruna Briones conversou com as nutricionistas Roberta Carbonari e Alessandra Feltre sobre a imunidade infantil e a importância de tomar as decisões certas para seu filho crescer bem.
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