Compulsão alimentar: dicas para relação saudável com a comida 

A compulsão alimentar é caracterizada pela ingestão, em um período de até duas horas, de uma quantidade de alimentos maior do que consumiria em circunstâncias normais e, ocorre mesmo em momentos em que a pessoa não está com fome

Nestes episódios, normalmente a ingestão dos alimentos é realizada com rapidez, sem prestar atenção no que se ingere, até sentir-se “desconfortavelmente cheio”. Muitas vezes, mesmo estando estufado, o indivíduo continua a comer descontrolavelmente sem deixar com que os sintomas gastrointestinais, como náuseas, arrotos ou refluxo, atrapalhem a ingestão. 

Para definir a compulsão alimentar, não podemos deixar de relacionar com questões emocionais como alteração de humor, problemas associados à relacionamentos ou trabalho, ansiedade e depressão. Além disso, durante estes episódios, os sentimentos de culpa, nojo, pena e vergonha estão presentes. 

A impulsividade é vista como um traço de personalidade associado à espontaneidade e iniciativa, mas quando exacerbada afeta a capacidade de fazer boas escolhas, inclusive na alimentação. Portanto, a compulsão alimentar apresenta forte componente impulsivo e ocorre em indivíduos com peso normal ou obesos. 

Na compulsão alimentar, alguns aspectos subjetivos são levados em consideração, como a quantidade de alimentos consumidos; já que as pessoas são habituadas a ingerir quantidades diferentes. Sendo assim, o “excesso consumido” é muito subjetivo, individualizado! Diante disso, devemos sempre observar primeiramente a alimentação habitual, para poder concluir que a pessoa realmente está consumindo uma quantidade excessiva de alimentos. 

Para se obter um diagnóstico certo, os episódios precisam ocorrer ao menos dois dias por semana, em um tempo de seis meses; assim, caracteriza-se o transtorno de compulsão alimentar periódica. Este diagnóstico deve ser feito por um profissional da saúde especialista na área. 

Faça as pazes com a comida! 


Os alimentos são essenciais para o nosso organismo e manutenção de uma vida saudável. Tratá-los de forma equivocada como refúgio emocional ou restringindo-os visando controlar o peso em busca do corpo perfeito, pode estar associado à compulsão alimentar em um futuro próximo. 

Atualmente, existe uma forte privação alimentar, onde os alimentos saudáveis são substituídos por fontes alimentares acessíveis e deficientes em nutrientes bons para a saúde, mas são ricos em gorduras saturadas e trans, sódio ou açúcar- estes alimentos são considerados “calorias vazias”. Diante disso, com a ingestão alimentar excessiva, podemos observar como consequência, o aumento do peso, deficiência de vitaminas, minerais e fibras, alterações metabólicas como resistência à insulina, diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemia. 

O cuidado psicológico é essencial! 


Para ter sucesso no tratamento com o seu nutricionista, não podemos deixar de ressaltar a importância do acompanhamento psicológico individual ou em grupo. Eventos estressores são um gatilho para desencadear a compulsão devido ao aumento da liberação de cortisol, o hormônio do estresse. 

A terapia cognitivo comportamental (TCC) pode ser eficaz no tratamento, uma vez que o indivíduo pode não conseguir identificar os gatilhos associados aos episódios, além de ter dificuldade em organizar a rotina ou até mesmo por não ter a consciência do diagnóstico. 

Sendo assim, práticas como meditação, ioga e escrita terapêutica ajudam a identificar as emoções subjacentes que levam à compulsão alimentar. 

Alimentação como parte do tratamento 


No tratamento nutricional, o foco não deve ser o emagrecimento, mas a perda de peso pode ser uma consequência da modificação de alguns hábitos alimentares. O objetivo principal é a mudança do comportamento e reduzir a frequência com que acontecem os episódios. Como se trata de um processo, pode demorar um bom tempo e, tal fato deve ser explicado à pessoa com a compulsão. 

Em relação à nutrição, é essencial adotar uma abordagem de alimentação consciente, o que chamamos de mindful eating. Algumas estratégias são comer devagar; colocar pequenas quantidades na boca e saboreá-la; comer com atenção plena e sem distrações durante as refeições como televisão e celular; descansar os talheres no prato a cada garfada e, antes de iniciar a refeição, se perguntar se realmente está com fome e qual o grau. 

Quando a ingestão alimentar é realizada com atenção plena, maior a mastigação e estímulo à saciedade, assim, a tendência em consumir grande quantidade é reduzida. Outro ponto importante é a diminuição da impulsividade na ausência de fome e do uso da alimentação como refúgio. Diante disso, incluir “hobbies” que tragam conforto emocional é essencial visando retirar o foco da alimentação como refúgio. 

Técnicas de automonitoramento como o diário alimentar; checklist de compras; estipular metas graduais; planejamento das refeições, ou seja, de um cardápio visando modificar com frequência os alimentos ingeridos e, assim, evitar enjoar, estimulando gatilhos associados à compulsão; e questionamentos para mudanças de pensamentos automáticos, podem ajudar as pessoas com o transtorno. 

Na prática, observa-se que as pessoas com compulsão alimentar necessitam sempre estar “comendo algo”. Diante disso, estabelecer horários regulares, incluindo lanches saudáveis entre as principais refeições e antes de dormir, podem ajudar no controle da compulsão. Outro ponto que deve ser considerado é planejar e porcionar antecipadamente as refeições, uma vez que pode ajudar na escolha mais assertiva dos alimentos em relação à quantidade e qualidade. 

Incluir alimentos fonte de proteínas e fibras como sementes, cereais, grãos, verduras, frutas e legumes, podem contribuir para a saciedade e, portanto, não podem faltar no planejamento alimentar 

Evitar realizar dietas restritivas também é importante, pois a restrição alimentar contribui para pensamentos obsessivos e impulsivos sobre comida e, assim, para os episódios de compulsão alimentar.  

Não se esqueça…. 


Criar uma relação saudável com a alimentação é essencial, mas trata-se de um processo demorado e que merece paciência. Diante disso, um acompanhamento nutricional em conjunto com o tratamento psicológico deve ser mantido por um período, visando criar estratégias individuais que ajudem da melhor maneira cada pessoa a lidar com o transtorno da compulsão alimentar.