​​​Burnout: como desenvolver uma relação saudável com o trabalho​​ 

Quantas vezes, ao longo da sua carreira, você se sentiu esgotado? Cansado a ponto de repensar sua trajetória? Quantas vezes teve vontade de jogar tudo para o alto e mudar de profissão?  

O esgotamento físico e mental, por décadas encarado como cansaço comum da rotina de trabalho, passou a ser visto como a principal característica de um distúrbio psíquico que se alastrou pelo ambiente corporativo: a Síndrome de Burnout.  

Acompanhada pela exaustão extrema, estresse e dores de cabeça frequentes, a doença fez com que a transição de carreira passasse a ser encarada como uma solução para o permanente desconforto mental e físico causado pelo trabalho.  

Mas, a médica psiquiátrica Laís César alerta: a transição não é o tratamento para o Burnout, embora exista essa grande expectativa. 

 

“Mudar nosso meio, local de trabalho, pessoas com quem interagimos e ressignificar nossa trajetória são, sim, possíveis movimentos de favorecimento da nossa saúde mental. Mas, às vezes, insuficientes”, pontua.  

Prevenir é melhor do que remediar ​​ 


Segundo a especialista, o verdadeiro tratamento é a prevenção. Para isso, Laís defende que o primeiro passo é a conscientização sobre o assunto para que, então, fiquemos ainda mais atentos e nos questionemos se estamos negligenciando ou priorizando demais o trabalho. 

 

Na sequência, é necessário desenvolver estratégias que diminuam o estresse e a pressão.  

Evitar pessoas tóxicas, que reclamam o tempo todo, está entre as formas de se blindar emocionalmente no dia a dia.  

Como nem sempre essa possibilidade existe, a sugestão é equilibrar a rotina aumentando o contato com as pessoas que são importantes para você.  

Conversar com amigos e familiares ajuda, inclusive, a compreender se o cansaço que você está sentindo pode estar além do esperado para a rotina de trabalho.  

Definir pequenas metas na vida profissional traz leveza ao cotidiano e alterna o foco do estresse para a realização pessoal.  

“Cuidar do sono, praticar atividade física diária, aumentar o tempo de dedicação à família e aos amigos, tirar férias, desconectar do trabalho têm grande importância”, lista a psiquiatra.  

​​​No trabalho ​​ 


O equilíbrio é fundamental. E, para alcançá-lo, o caminho passa pela constante autoavaliação da sua vida.  

Como está a ordem de propriedades da sua agenda? Você tem considerado as atividades com a família um compromisso prioritário? Ou não há espaço reservado para curtir quem você ama?  

Além de afinar o olhar para as demandas domésticas e do âmbito pessoal, ser racional na hora de separar o tempo na agenda para os compromissos pessoais é uma forma de evitar a decepção. 

“É essencial que a gente compreenda e tenha o controle sobre a famosa agenda. Temos que ser realistas sobre o tempo que é demandado em cada atividade, senão a frustração pelo não cumprimento dessa agenda-fantasia vai chegar”, orienta. 

 

​​​Antes feito que perfeito


Uma metanálise publicada na Revista de Personalidade e Psicologia Social avaliou estudos que relacionaram a Síndrome de Burnout ao perfeccionismo multidimensional.  

Os resultados apontaram que, enquanto os esforços motivados pelo perfeccionismo não tiveram grande impacto no desenvolvimento do distúrbio psíquico, a preocupação gerada pela busca incessante da perfeição potencializou os sintomas do Burnout.    

Sabendo disso, fica mais fácil colocar em prática outra dica de Laís César: “direcionar sua carreira de acordo com os estressores que identificar também pode te ajudar”. Ao assumir a personalidade perfeccionista, você pode desenvolver estratégias próprias que te mantenham distante da espiral da autocobrança.  

Bom lembrar ​​ 


Em 2022, a Síndrome de Burnout foi reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como uma patologia.  

O distúrbio psíquico passou a integrar a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) na categoria de doença do trabalho.  

Para não chegar ao quadro de esgotamento físico e mental, é preciso organizar a agenda de forma realista, equilibrando a vida pessoal e profissional. Sair com a família e amigos, praticar atividades físicas e se permitir ter as condições adequadas para um sono de qualidade são algumas formas de garantir a manutenção da saúde mental.  

O autoquestionamento também é essencial. “Pergunte o que te dá mais realização, depois pense na atividade que mais tem sugado sua energia e pense se isso pode ser alterado de alguma forma”, sugere a médica psiquiatra Laís César.  

Avalie se o trabalho que você desempenha hoje é o melhor pra você.  

A especialista recomenda que você não se sinta preso a um trabalho que fazia sentido para você há cinco anos, mas que hoje não faz mais. “A vida é movimento, transformação, e nós também”, po​n​dera.  

Crie estratégias de bem-estar. Fortaleça as relações que já existem e também construa novas amizades, não apenas no ambiente de trabalho, mas em outros núcleos da vida. E, a qualquer desconfiança de que algo não vai bem dentro de você, procure a ajuda de um especialista.  

O cargo mais importante da sua vida é aquele que te faz protagonista, sem a necessidade de recorrer a dublês.