Descubra como exageros na atividade física podem ser causador de estresse   

Se você chegou nesse artigo em busca de uma explicação científica para escapar da prática de atividade física, é melhor parar por aqui.  

Isso porque você só pode se estressar com o que faz parte da sua rotina.  

Agora, se você treina – muito – e está curioso para saber se a falta de motivação associada à queda de desempenho e sensação permanente de cansaço pode ser um sinal de alerta, a resposta é sim.  

Treinos em excesso, sem intervalos adequados, num ritmo acima do suportado pelo corpo em busca de resultados mais rápidos podem levar ao overreaching – um quadro em que o equilíbrio entre o estresse de treinamento e o tempo de recuperação é desproporcional.  

O diagnóstico não é exclusividade de atletas profissionais e demanda cuidados para não evoluir para o overtraining, excesso que leva a lesões mais graves e que exigem um intervalo maior para que o corpo se recupere de forma adequada.  

Autoconhecimento  


Observar e respeitar o seu próprio corpo é a melhor forma de identificar se você está cruzando a linha do aceitável.  

O professor e doutor em ciências médicas, Felipe Schuch, sugere ficar atento ao momento em que o exercício deixa de ser prazeroso e, caso seja necessário, a orientação é fazer uma breve pausa.   

“Para quem está numa fase de treinos muito intensos, a pausa vai ser muito mais vantajosa do que treinar. A recuperação é parte de um programa de treinamento e a recuperação adequada vai influenciar também a resposta afetiva que a gente vai ter ao treinamento”, recomenda. 


Resposta afetiva  


Na divisão informal dos graus de disposição, quem faz parte do time “canso só de pensar” dificilmente se dispõe a treinar sem que haja motivação.  

Mas, a inércia não é o contraponto do overtraining. Isso porque o sedentarismo contribui para o desenvolvimento de uma série de patologias, como doenças cardiovasculares, hipertensão, diabetes tipo 2 e obesidade.  

Se manter a constância dos treinos é um desafio, sair da rotina parado também é uma tarefa desafiadora para quem vive um ritmo sedentário. Por isso, Felipe sugere que o incentivo venha de quem já mantém uma vida ativa. 

Fuja do convencional  


Esqueça a pergunta simples e direta: “Vamos começar a academia?”. O especialista recomenda, primeiro, conversar sobre os benefícios da atividade física de forma leve e sutil para, num segundo momento, usar convites despretensiosos como ferramenta para que a pessoa acrescente movimento ao cotidiano.  

– Vamos sábado de tarde andar de bicicleta?  

– Vamos ali dar uma volta? 

– Vamos ver os pássaros no parque? 

– Vamos levar o cachorro para passear?  

“São estratégias que a gente pode adotar para fazer com que, primeiro, a pessoa saia do sofá. Isso já é o primeiro ponto. O segundo ponto é tentar incorporar maior frequência a qualquer atividade”, detalha Felipe, que acrescenta: “qualquer tipo de movimento físico faz diferença para a saúde mental, principalmente os que têm relação com a natureza”.  

Meditação e exercícios de controle da respiração também auxiliam na liberação de hormônios do bem-estar e são opções complementares à prática de exercícios físicos na busca do equilíbrio físico e psíquico.  

Bom saber  


O autoconhecimento é essencial no processo de enfrentamento do estresse.  

Saber os próprios limites permite desacelerar quando preciso e conectar os motores depois de muito tempo parado.  

“É importante que a gente tenha um bom entendimento de quais são as atividades que vão nos proporcionar uma resposta afetiva positiva. Qual é a atividade que eu faço e faz com que eu me sinta bem fazendo essa atividade”, indica Felipe Schuch.  

Ferramenta comprovadamente eficaz para uma rotina de calma – por conta dos marcadores biológicos e dos fatores psicossociais associados -, as atividades físicas permitem que a movimentação traga efeitos positivos instantâneos e a longo prazo.  

Para criar uma relação de afeto e constância com a prática esportiva, o especialista sugere investir no fortalecimento dos processos cognitivos e afetivos, pelos quais é possível atribuir, racionalmente, valor ao papel do exercício na própria vida.  

“Eu digo que a pessoa tem que se sentir bem e ela tem que atribuir valor naquela atividade física. Com essas duas coisas acontecendo, a gente consegue muito mais facilmente manter algum comportamento”, conclui.