Emagrecimento Rápido: A Fisiologia por Trás da Busca pelo Corpo Ideal  

Em busca do corpo ideal, muitas pessoas procuram métodos de emagrecimento rápido, sem se atentar para a saúde. A promessa de resultados imediatos pode ser tentadora, mas é crucial entender os riscos e consequências associados a essa abordagem. Neste artigo, vamos explorar se é possível emagrecer rapidamente de maneira saudável, os riscos envolvidos e as consequências para a saúde.

Desejo universal entre homens e mulheres às vésperas do verão, a perda de gordura e aumento da massa muscular lideram o topo dos objetivos a alcançar relatados a nutricionistas no último trimestre do ano. 

As temperaturas começam a subir, a temporada da praia bate à porta e os quilos a mais acumulados ao longo dos meses anteriores viram a pedra no sapato de quem não vê no espelho o reflexo que gostaria.   

O termo “dieta” é alvo de pesquisa com aumentos pontuais em dois momentos do ano. Segundo o Google Trends, a curiosidade desponta na segunda semana de novembro e volta a rondar os campos de pesquisa do buscador na segunda quinzena de janeiro. 

  

Coincidentemente, quando as férias e recessos se aproximam e após os festejos, quando a conta na balança parece não fechar.

Janelas temporais em que as fórmulas genéricas de dietas se multiplicam e a restrição calórica e excessos na academia viram rotina na tentativa de recuperar o tempo perdido.   

Só que esse movimento externo tem impacto fisiológico no organismo. Se, por fora, o emagrecimento rápido até vem, por dentro, o desequilíbrio hormonal acena para danos inevitáveis, como a queda de hormônios sexuais, sem os quais os sonhados músculos não são capazes de se desenvolver.   

É Possível Emagrecer Rapidamente de Forma Saudável? 


Emagrecer rapidamente de maneira saudável é um desafio complexo. Enquanto algumas dietas prometem resultados expressivos em curtos períodos, é fundamental adotar abordagens equilibradas e sustentáveis. A perda de peso saudável geralmente é considerada entre 0,5 e 1 quilo por semana, o que permite uma adaptação gradual do corpo às mudanças. 

Didaticamente explicando, a perda de peso se divide em duas fases – a rápida e a lenta.   

Na primeira, que dura de duas a seis semanas, o corpo, de fato, emagrece, ao eliminar líquidos, proteínas e glicogênio (que é a forma com que estocamos energia na musculatura). Já na segunda fase, que é a lenta, começa a perda de gordura corporal.

O que ilustra a não linearidade da perda de peso, que é marcada por uma série de mudanças fisiológicas. Por isso, focar no peso desejado pode trazer respostas traiçoeiras e equivocadas.   

A explicação está no que ocorre nos bastidores, num processo chamado termogênese adaptativa: a resposta do corpo à perda de peso, fazendo com que o gasto energético diminua, estacionando o emagrecimento.   

O tecido adiposo produz um hormônio chamado leptina, que gerencia o gasto energético e a busca por alimento. À medida que vou perdendo gordura corporal, eu vou reduzindo a produção de secreção da leptina, dando uma sinalização de que devemos gastar menos energia para chegar ao estágio inicial que estávamos no começo do processo de perda de peso. Para que esse processo não continue tão acentuado, ela vai fazer com que gastemos menos energia.  

Não é um autoboicote, pelo contrário. Trata-se de um mecanismo de sobrevivência ativado no momento em que o organismo interpreta o gasto das reservas metabólicas (leia: gordura) como uma situação de risco à vida. É quando ocorre o revés – responsável pelo efeito sanfona das dietas.

Diante da diminuição abrupta do peso, o sistema dopaminérgico aciona as sirenes, despertando a necessidade de comer, por meio do esquema de recompensa proporcionado pelo bem-estar causado por doces e junk foods.   

Sim, a fome desesperadora que surge durante as dietas não é compulsão, mas uma resposta do corpo à restrição calórica. 

Riscos do Emagrecimento Rápido 


Emagrecer rapidamente pode acarretar diversos riscos para a saúde. Dietas extremamente restritivas podem levar a deficiências nutricionais, afetando o funcionamento adequado do corpo. A perda rápida de peso muitas vezes está associada à perda de massa muscular, o que pode resultar em fraqueza, fadiga e comprometimento do sistema imunológico. 

Outro risco importante é o efeito sanfona, no qual a pessoa recupera o peso perdido rapidamente após o término da dieta restritiva. Esse ciclo de ganho e perda de peso pode causar danos metabólicos e aumentar o risco de problemas de saúde a longo prazo, como diabetes e doenças cardíacas. 

Consequências do Emagrecimento Rápido 


Hormônios Sexuais   


A fome não é o único reflexo sentido. Uma vez que entra no “modo sobrevivência”, a produção de hormônios sexuais passa a ser reduzida.

Restrições calóricas inconsequentes e severas, alteram os hormônios sexuais e o comportamento alimentar, que tentam restabelecer a ordem, nesse processo altera-se o nível de cortisol, o hormônio do estresse.

Um estudo publicado no The Journal of the American Medical Association (JAMA) mostrou que a restrição calórica, em quatro semanas, aumentou o cortisol urinário de 24 horas em 25%. 

Com a alta do cortisol, a testosterona cai e quem tenta equalizar o cálculo é a dopamina – com mais fome e desejo por alimentos altamente palatáveis.

Por isso o emagrecimento fracassa, você modifica neurotransmissores e o corpo sempre vai buscar a sobrevivência. 

As consequências do emagrecimento rápido vão além dos riscos imediatos para a saúde. Muitas vezes, as pessoas que optam por métodos extremos podem desenvolver uma relação prejudicial com a comida, levando a transtornos alimentares como a anorexia ou bulimia. A pressão social e as expectativas irreais podem contribuir para distúrbios psicológicos relacionados à imagem corporal. 

Além disso, a perda rápida de peso pode resultar em flacidez da pele, afetando a estética corporal. A falta de nutrientes essenciais durante dietas restritivas pode prejudicar a saúde capilar, unhas e pele, manifestando-se em condições como queda de cabelo e unhas quebradiças. 

A solução – Uma estratégia sustentável, sem pressa 


O caminho para que o organismo compreenda a perda de peso como uma mudança positiva é, em primeiro lugar, desvincular o emagrecimento da ideia emergencial, radical e imediatista, ligada a dietas extremas que comprometem a saúde metabólica.

Até porque a restrição calórica severa é oposta ao conceito de saúde muscular, que, por sua vez, é construída pelo consumo de quantidades adequadas de proteína, como mostra um estudo que comparou três dietas. 

Os pesquisadores montaram cardápios com três propostas de distribuição de nutrientes. 

Somadas, as 1.800 calorias diárias previam a ingestão proteica de: 64, 122 e 185 gramas de proteína por dia. 

O grupo que consumiu menos proteínas perdeu 70% do peso em massa muscular, enquanto aqueles que tiveram maior ingestão proteica perderam 64% de massa gorda. Outra vantagem do consumo de proteína no processo de emagrecimento é a comprovada sensação de saciedade promovida pelo consumo do nutriente, que facilita a manutenção da alimentação saudável.  

Para emagrecer sem perder massa muscular, a sugestão é investir no consumo proteico aliado ao treino de força. Conselho baseado na evidência científica de que indivíduos que têm maior compromisso com treinamento, têm menores dobras cutâneas.   

A pirâmide do corpo saudável tem atividade física na base, alimentos in natura, água, boas fontes proteicas, boas fontes de carboidratos, frutas e vegetais, gerenciamento do sono, resiliência e, no topo, os suplementos como aliados.

Conclusão 


Dietas balanceadas, ricas em nutrientes essenciais e associadas a uma rotina de exercícios físicos, são a base de um emagrecimento saudável. Evitar dietas extremamente restritivas e apostar em escolhas alimentares sustentáveis é crucial para garantir que o processo de emagrecimento seja benéfico para a saúde geral. 

E, no fim, não é sobre o corpo do verão, mas o corpo saudável – que deve prevalecer no verão!