Longevidade e Cérebro ativo: duas faces da mesma moeda

À medida que envelhecemos, a manutenção da saúde do cérebro torna-se essencial para desfrutar de uma vida longa e produtiva. Neste artigo, exploraremos a relação entre longevidade e saúde cerebral e discutiremos como cuidar do cérebro ao longo dos anos pode fazer toda a diferença. 

O QUE É LONGEVIDADE? 


A longevidade é comumente definida como uma duração de vida maior que a média. Mas esta não é uma definição ideal, pois foca na quantidade e ninguém quer simplesmente viver mais. Queremos, principalmente, viver melhor. 

 

Neste artigo, a definição de longevidade inclui estar com a melhor saúde  possível, bem-estar, lucidez e autonomia com o avançar da idade. A quantidade de anos continua sendo importante, mas a qualidade de vida e integridade da saúde se tornam a prioridade – uma vida mais longa será uma consequência de uma vida mais saudável. 

Então, o conceito de longevidade está diretamente relacionado ao de saúde, mas muitas vezes não temos uma ideia clara do que é saúde. Seria simplesmente a ausência de doenças? O conceito de saúde elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é definido como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”. 

 
Estratégias para cultivar e amplificar este “bem-estar físico, mental e social” resultam em saúde que, por sua vez, propicia maior expectativa de vida. A longevidade é decorrente de todos esses níveis de bem-estar e não apenas da ausência de problemas de saúde no corpo. Isso é muito importante, pois a saúde mental, a positividade e a alegria são indispensáveis para a longevidade, assim como relações afetivas, amizades e interação social significativa. 

O que é expectativa de vida? 


A expectativa de vida é o tempo de vida aproximado de determinada população. É calculada a partir da média da duração de vida, por esta razão, está diretamente relacionada às condições históricas e regionais, como guerras, epidemias, avanço da tecnologia e da ciência, índices de violência, dentre outros.  

Os avanços no saneamento básico, na higiene e na medicina diminuíram a mortalidade infantil e também as mortes e complicações de saúde causadas por infecções, acidentes e casos de emergência, contribuindo para a maior expectativa de vida. 

Para você ter uma ideia, aqui no Brasil, em 1940, a expectativa média de vida era de 45 anos. Hoje, já passamos de 76 anos. É claro que isso não significa que as pessoas antigamente não chegavam aos 50, 60 ou 70 anos, afinal, boa parte dos adultos de hoje puderam contar com a presença dos avós que podem ter chegado a 80 anos ou mais. A expectativa de vida aponta que muita gente morria bem antes dessas idades e um número relativamente pequeno de pessoas alcançava a idade avançada. 

Como viver mais 


Existem muitos fatores importantes para a conquista da longevidade: alimentação saudável, um sono de qualidade, gerenciamento do estresse, atividade física, relações sociais significativas, propósito de vida, engajamento em atividades que estimulem o aprendizado, a troca e o pensamento.  

 

E sabe qual é o ponto em comum de todas elas? Todas são necessárias para a boa saúde cerebral. Aqui temos uma chave importante, a saúde cerebral e longevidade andam juntas. Desse modo, vamos focar diretamente em maneiras de manter o cérebro saudável. 

O que você faz para manter seu cérebro saudável?   


Sua resposta incluiu leitura, jogos de completar palavras ou números, aprendizado de novas línguas e habilidades diferentes? Caso sim, parabéns! Você está no caminho correto para manter o cérebro em dia. 

“Brain”  


As sugestões de respostas para o questionamento sobre “como manter o cérebro saudável?” estão no próprio nome do órgão, em inglês.  O cientista e pesquisador PHD em Química Biológica, Marc Milstein, criou um “guia de recomendações” baseado nas letras que compõem a palavra BRAIN, “cérebro”, em inglês.   

B – de balance, ou equilíbrio, é o estímulo para trabalhar o equilíbrio propriamente dito – e prestar atenção caso note alguma mudança nessa aptidão física. Por esta razão, manter-se ativo e cultivar uma boa musculatura é fundamental, dessa maneira, mantemos um bom equilíbrio, o que, além de diminuir os riscos de quedas e complicações decorrentes, é fundamental para o bem-estar e funciona como um indicativo de saúde e longevidade.  

R – de recall, ou lembrar, como convite a testar permanentemente a sua memória, a fim de exercitá-la. Estar sempre aberto a novas informações e buscar ativamente e de forma metódica novos conhecimentos e habilidades, é fundamental nesse quesito. A leitura, o aprendizado de idiomas, pintura, música, palavras-cruzadas, jogos, todos contribuem para esse objetivo.   

A – de assessment, ou avaliação, constitui outro chamado à auto-observação, no intuito de identificar quaisquer alterações na saúde, providenciando o tratamento quanto antes, resultando na maior longevidade.  

I – intensidade de caminhada, ao pé da letra, sugere caminhar num ritmo vigoroso (como propõe a Organização Mundial de Saúde) por, pelo menos, seis a dez minutos por dia.
 
 

N – numericamente, como você traduziria sua idade? Essa resposta é um indicativo da sua saúde mental. Segundo um estudo*(A) publicado na revista científica Science Daily, pessoas que se sentem mais jovens frequentemente têm, de fato, um cérebro mais saudável – teoria comprovada por imagens de ressonância magnética.

O Estilo de Vida das Zonas Azuis para a saúde cerebral e longevidade


Zonas azuis são diferentes locais no planeta, onde a porcentagem de pessoas centenárias é muito maior do que no restante do globo. 

Os pesquisadores encontraram elementos em comum nestas populações. Hábitos de alimentação, atividade física, mentalidade, padrões sociais, contato com a natureza e mais alguns. 

Quando pensamos na relação saúde cerebral e longevidade, alguns aspectos do estilo de vida dessas regiões chamam a atenção: 

Manejo saudável do estresse 


As pessoas mais longevas do mundo sabem eliminar o estresse desnecessário e administrar o estresse inevitável.  A lição é desenvolver maneiras saudáveis de apreciar a vida e descarregar as tensões naturais do dia a dia. 

 
O estresse crônico está direto ou indiretamente relacionado à grande maioria dos problemas de saúde.  

 

Se o estresse fosse simplesmente o resultado de eventos externos, não haveria solução, mas o estresse é, em grande parte, resultado dos nossos hábitos e reações. O modo como reagimos ao que nos acontece é mais importante do que o acontecimento propriamente dito. É justamente por isso que práticas como a meditação, mindfulness (atenção plena), yoga e relaxamento podem ajudar tanto. 

Momentos de estresse são parte da vida e até mesmo saudáveis quando encarados com a atitude correta, a partir dele nos tornamos mais fortes e capazes de superar situações desafiadoras, por outro lado, o estresse crônico não é um estado natural e como boa parte dele provém do âmbito mental e emocional, é de extrema importância buscar o autoconhecimento e se dedicar a aprimorar sua inteligência emocional. 

Positividade, espiritualidade e propósito de vida 


Assim como estados negativos como a depressão aumentam os riscos de mortalidade, diminuindo a expectativa de vida; a positividade diminui os riscos de inúmeras doenças, melhora a qualidade de vida e aumenta a longevidade.  

Um artigo de revisão incluindo 35 estudos mostrou que pessoas felizes podem viver até 18% mais do que suas contrapartes menos felizes. 

A fé e a dedicação a princípios morais e espirituais também desempenham um grande papel na vida dos longevos de todo o mundo. Um conjunto de crenças e princípios fornece um direcionamento claro e construtivo e muitas vezes cria a sensação de que somos parte de algo maior. 

Isso também fortalece o vínculo entre as pessoas e contribui de maneira decisiva para a saúde emocional e social. Facilita dar e receber ajuda, o que alivia a sensação de solidão e diminui enormemente as chances de depressão ou comportamentos destrutivos. 

A espiritualidade e a fé não se limitam a crenças religiosas, mas incluem a confiança numa força superior, a preocupação com os outros, a disposição em ajudar, e um conjunto de valores a serem seguidos, como honestidade, justiça e assim por diante. 

Com isso temos o propósito de vida, conhecido como ‘ikigai’ em Okinawa no Japão ou ‘projeto de vida’ em Nicoya, Costa Rica, duas famosas “zonas azuis”. 

Este propósito é algo que traz ânimo, satisfação e apreciação pela vida, impulsiona a crescer, se expandir e contribuir com aquilo que você tem de melhor, beneficiando os outros também.

Relações familiares e boas amizades 


As pessoas mais longevas do mundo escolheram ou nasceram em círculos sociais compatíveis com comportamentos saudáveis. Os okinawanos criaram os ‘moais’ – grupos de cinco amigos que se comprometem uns com os outros por toda a vida.

 

Pesquisadores relatam que o convívio social saudável pode ajudá-lo a viver mais.  

Pesquisas a partir dos Estudos Framingham mostram que o tabagismo, a obesidade, a felicidade e até mesmo a solidão, são todos contagiosos. As conexões sociais das pessoas mais longevas contribuem favoravelmente para os seus hábitos e atitudes saudáveis.  

 

A interação social e afetuosa é um elemento comum em todos os locais com altas taxas de longevidade saudável e o isolamento social é um fator que aumenta o risco de muitas doenças, incluindo distúrbios como ansiedade e depressão. 

Conclusão 


A construção de uma vida longeva e saudável passa necessariamente pelo cuidado com a saúde, com destaque para a saúde cerebral. Além dos cuidados básicos com o estilo de vida e alimentação e, muitas vezes, com a suplementação – estudos destacam o ômega 3, vitamina D, complexo B, magnésio e proteínas – é fundamental estimular diretamente este órgão por meio de uma variedade de atividades no dia a dia.

Estudos:  


Seyul Kwak, Hairin Kim, Jeanyung Chey, Yoosik Youm. Feeling How Old I Am: Subjective Age Is Associated With Estimated Brain Age. Frontiers in Aging Neuroscience, 2018; 10 DOI: 10.3389/fnagi.2018.00168

 

Chida Y, Steptoe A. Positive psychological well-being and mortality: a quantitative review of prospective observational studies. Psychosom Med. 2008;70(7):741-756. doi:10.1097/PSY.0b013e31818105ba 

 

Diener, Ed and Chan, Micaela Y., Happy People Live Longer: Subjective Well-Being Contributes to Health and Longevity (January 10, 2013). Applied Psychology: Health and Well-Being, Vol. 3, No. 1, 2011, Available at SSRN: https://ssrn.com/abstract=2199189 

 

Iso H, Date C, Yamamoto A, et al. Perceived mental stress and mortality from cardiovascular disease among Japanese men and women: the Japan Collaborative Cohort Study for Evaluation of Cancer Risk Sponsored by Monbusho (JACC Study). Circulation. 2002;106(10):1229-1236. doi:10.1161/01.cir.0000028145.58654.41