A Coenzima Q10 emagrece? O que devemos saber?

Coenzima q10 emagrece.

Muito tem se falado sobre a coenzima Q10, desde que se tornou um dos suplementos mais consumidos e prescritos pelos profissionais da saúde. Diversos são os questionamentos, especialmente se a coenzima Q10 emagrece. 

Mas afinal, o que é coenzima Q10? 


A coenzima Q10 (CoQ) também conhecida como ubiquinona, é uma substância produzida naturalmente no organismo dos animais e, também encontrada em alguns alimentos. Foi descoberta por Frederick Crane e colegas em 1957, na Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos. Trata-se de um antioxidante lipossolúvel, ou seja, solúvel em gorduras, relevante na proteção das células contra ação dos radicais livres, que são substâncias produzidas diariamente pelo metabolismo energético que destroem as nossas células e estão associadas ao envelhecimento. 

É um componente essencial no transporte de elétrons nas membranas mitocondriais durante a respiração celular aeróbia visando a produção de energia, ou seja, o ATP (adenosina trifosfato) – essencial para o adequado funcionamento das células. Diante disso, falamos que a coenzima Q10 é fundamental para a transferência de energia.  Além disso, faz parte da estrutura das leveduras, importantes para o fortalecimento do sistema imune e funcionamento adequado do intestino. 

Ela é encontrada no organismo de duas formas diferentes: ubiquinona e ubiquinol. Mas para que possamos entender de maneira simples, a ubiquinona é necessária na produção de energia sob a forma de ATP, e o ubiquinol tem uma ação antioxidante. 

Outras funções da Coenzima Q10 


Uma vez que a coenzima Q10 ajuda no fornecimento de energia, é considerada fundamental em tecidos com alto gasto energético, como o tecido cardíaco, cérebro, fígado e rins. Na prática de exercícios físicos, em que a demanda energética é maior, a substância também se torna necessária para a atividade muscular. 

Além disso, estimula a biogênese mitocondrial – ou seja, a produção de novas mitocôndrias dentro das células. 

É fundamental na proteção das estruturas celulares devido à sua ação antioxidante e, também porque contribui para a reciclagem de outros antioxidantes. A via mais eficaz de eliminação de radicais livres é realizada pela vitamina E (α-tocoferol); e a regeneração dessa vitamina ao lado da vitamina C (ascorbato) também é uma das funções da CoQ10. Diante disso, estas vitaminas também não podem faltar em nosso organismo. 

Outro ponto que merece destaque é sua ação na expressão do gene, estabilização da membrana celular e proliferação e sinalização celular, contribuindo para que as células funcionem de maneira correta em nosso corpo. 

A coenzima Q10 fornece proteção antioxidante às membranas celulares e lipoproteínas plasmáticas, aquelas substâncias que vemos nos exames de sangue, como o LDL- considerado o colesterol “ruim”. A CoQ10 ajuda a reduzir a formação de compostos associados à aterosclerose, conferindo benefícios à saúde contra doenças cardiovasculares. 

Produção de coenzima Q10 no organismo 


Uma vez que a coenzima Q10 é produzida naturalmente em todos os tecidos do nosso organismo, a sua suplementação não seria necessária. Porém, a síntese pelo organismo reduz com o avanço da idade e, na presença de algumas doenças, estresse oxidativo, tratamento com estatinas e má qualidade do sono. 

A maior quantidade de CoQ10 suplementada por via oral é eliminada através das fezes, com apenas uma fração ingerida atingindo o sangue e, enfim, os diversos tecidos e órgãos.  

Em algumas situações específicas, observa-se a deficiência da substância. Os principais sintomas associados são fraqueza, tontura, cansaço excessivo, tontura, dores musculares e lentidão no pensamento. Diante disso, muitos estudos têm demonstrado os seus benefícios. 

Benefícios da coenzima Q10 demonstrados em estudos 


Doenças Neurodegenerativas 


A disfunção mitocondrial tem sido associada à diversas doenças neurodegenerativas. Em estudos com pessoas com doenças neurodegenerativas como Doença de Huntington, Parkinson e esclerose amiotrófica lateral, doses de 600 a 3.000 mg de coenzima Q10 foram usadas. 

Doenças Cardiovasculares 


Tratamento diário por 12 semanas ou menos, com 100 mg CoQ10, melhorou a fração de ejeção do ventrículo esquerdo em pacientes sofrendo de insuficiência cardíaca. Em um estudo multicêntrico randomizado e controlado, com duração de 2 anos e 420 pacientes que sofriam de insuficiência cardíaca crônica (ensaio Q-SYMBIO), receberam 300mg/ dia de CoQ10 como terapia adjuvante, foi observada uma melhoria dos sintomas e redução de eventos cardiovasculares maiores. 

Síndrome Metabólica e Diabetes 


Devido à sua ação antioxidante, muito tem se estudado a respeito; porém poucos são os estudos bem desenhados. Em 2016, Moradi et al. mostrou que a dose de 260mg/dia de coenzima Q10 consumida por pacientes diabéticos, reduziu os níveis de glicose plasmática de jejum, sem alterações na insulina de jejum e hemoglobina glicada (HbA1c). 

Em uma análise de acompanhamento dos dados obtidos de ensaios clínicos Q-SYMBIO, os autores conseguiram mostrar que em idosos saudáveis, a suplementação de selênio e CoQ10 por mais de 4 anos, gerou um aumento no fator de crescimento semelhante à insulina 1 (IGF-1), importante para o controle da glicemia sanguínea. 

Doença Renal 


Em um ensaio clínico publicado em 2017 com 65 pacientes submetidos à hemodiálise, a suplementação com altas quantidades de CoQ10 (1200 mg/dia) reduziu os níveis de um marcador associado ao estresse oxidativo (F2-isoprostano). 

Inflamação 



A administração de CoQ10 em doses que variam de 60 a 500 mg/dia, por um período de 1 semana a 4 meses, reduziu significativamente a produção de substâncias inflamatórias. Os autores também afirmaram que a suplementação de CoQ10 diminuiu substâncias pró-inflamatórias e marcadores inflamatórios em idosos com baixos níveis de CoQ10. 

Fertilidade 


A infertilidade nos homens tem sido associada ao estresse oxidativo, e os níveis de CoQ10 no líquido seminal são considerados um importante biomarcador de espermatozoides saudáveis. A administração de CoQ10 nas doses de 200–300 mg/dia, melhora a concentração de espermatozoides, densidade, motilidade e morfologia no tratamento da infertilidade masculina sem causa conhecida. 

Uso de estatinas 


Pessoas que fazem uso de estatina como tratamento da dislipidemia, apresentam redução da coenzima Q10 e, consequentemente cansaço e dores musculares; sendo assim, a suplementação tem demonstrado bons resultados no controle destes sintomas. 

A coenzima Q10 emagrece?  


A coenzima Q10 não atua diretamente no emagrecimento ou perda de peso; porém, como ela age em reações no organismo visando maior produção de energia, pode ser uma aliada. Uma vez que melhora a disposição nos treinos, pode contribuir para a performance e favorecer o gasto calórico. 

Não existem estudos que demonstrem a ação da coenzima Q10 no emagrecimento. Sendo assim, é MITO dizer que a coenzima q10 emagrece! Além disso, não podemos esquecer que o processo de emagrecimento sofre influência de diversos fatores e, não de apenas uma substância. 

Suplementação de coenzima Q10 


Como suplemento, está disponível em doses de cápsula única de 30, 60, 100, 200, 300, 400 e 600 mg. Embora não tenha um mínimo estabelecido ou dose máxima eficaz, a média de dose necessária para atingir um nível sanguíneo terapêutico > 2,5 mcg/mL é de 100mg a 200 mg, uma a duas vezes ao dia, preferencialmente com uma refeição – uma vez que a presença de gordura é importante para a sua absorção.  

Recomenda-se procurar um nutricionista ou médico para adequar a dose de acordo coma sua necessidade, uma vez que é diferente de acordo com cada situação. 

Em quais alimentos encontramos a coenzima Q10? 

  • Oleaginosas: pistache, amendoim, nozes; 
  • Sardinha; 
  • Frutas: maçã, abacate, laranja; 
  • Legumes e verduras: brócolis, espinafre.

O que eu não devo esquecer? 


A coenzima Q10 normalmente é indicada para pessoas que fazem uso de estatina (medicamentos utilizados para controle do colesterol) ou com doenças genéticas que afetem o metabolismo das mitocôndrias. Porém, com o avanço da idade ou em situações de estresse, comuns em doenças crônicas ou prática de atividade física intensa, a substância pode ser recomendada. 

Referências
 

(A) Raizner AE. Coenzyme Q10. Methodist Debakey Cardiovasc J. 2019 Jul-Sep;15(3):185-191. doi: 10.14797/mdcj-15-3-185. PMID: 31687097; PMCID: PMC6822644. 

(B) Fotino, A. D., Thompson-Paul, A. M., and Bazzano, L. A. (2013). Effect of coenzyme Q(1)(0) supplementation on heart failure: a meta-analysis. Am. J. Clin. Nutr. 97, 268–275. doi: 10.3945/ajcn.112.040741.
 

(C) Mortensen, S. A., Rosenfeldt, F., Kumar, A., Dolliner, P., Filipiak, K. J., Pella, D., et al. (2014). The effect of coenzyme Q10 on morbidity and mortality in chronic heart failure: results from Q-SYMBIO: a randomized double-blind trial. JACC Heart Fail. 2, 641–649. doi: 10.1016/j.jchf.2014.06.008. 

(D) Moradi, M., Haghighatdoost, F., Feizi, A., Larijani, B., and Azadbakht, L. (2016). Effect of coenzyme Q10 supplementation on diabetes biomarkers: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled clinical trials. Arch. Iran. Med. 19, 588–596.
 

(E) Rivara, M. B., Yeung, C. K., Robinson-Cohen, C., Phillips, B. R., Ruzinski, J., Rock, D., et al. (2017). Effect of coenzyme Q10 on biomarkers of oxidative stress and cardiac function in hemodialysis patients: the CoQ10 biomarker trial. Am. J. Kidney Dis. 69, 389–399. doi: 10.1053/j.ajkd.2016.08.041. 

(F) Fan, L., Feng, Y., Chen, G. C., Qin, L. Q., Fu, C. L., and Chen, L. H. (2017). Effects of coenzyme Q10 supplementation on inflammatory markers: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Pharmacol. Res. 119, 128–136. doi: 10.1016/j.phrs.2017.01.032. 

(G) Safarinejad, M. R., Safarinejad, S., Shafiei, N., and Safarinejad, S. (2012). Effects of the reduced form of coenzyme Q10 (ubiquinol) on semen parameters in men with idiopathic infertility: a double-blind, placebo controlled, randomized study. J. Urol. 188, 526–531. doi: 10.1016/j.juro.2012.03.131.