Desde a adolescência: veja os hábitos que influenciam na saúde ovariana 

Noites de sono reparador, alimentação com elementos antioxidantes e atividade física.  

O check-list é simples, já a eficiência das tarefas depende da idade em que a mulher começa a colocá-las em prática. 

  

É que mulher é feita de vida: além da própria, daquelas que é capaz de gerar.  

Da primeira menstruação à menopausa, o ciclo reprodutivo se faz indissociável da história feminina.  

Marcado por começo, meio e fim, todo mês traz o lembrete: a quantidade de óvulos é finita. Consciência que conduz às escolhas que devem ser tomadas a cada dia que corre paralelo às fases da vida reprodutiva.   

“Nós, mulheres, nascemos com um banco de óvulos. Tudo que a gente vai retirando, a gente não tem como repor. Fazer uma economia desses óvulos é importante. Isso começa lá na adolescência, quando está amadurecendo todo o eixo hormonal”, explica a nutricionista especializada em nutrição funcional, Débora Valadão.  

Não se trata apenas de criar um ambiente favorável para uma possível futura gestação. O estilo de vida saudável implica em toda a saúde reprodutiva e nas probabilidades do desenvolvimento de doenças ligadas aos distúrbios hormonais, como a síndrome do ovário policístico e o envelhecimento ovariano precoce.  


Pequenas escolhas, grandes impactos 
 

Distante de uma proposta radical de acordar de madrugada para correr aos 15 anos de idade ou ir para a cama às 21h no período escolar, o que os especialistas propõem é uma rotina alinhada ao ciclo circadiano e às condições ideais para a manutenção da produção de neurotransmissores que ele beneficia.  

Segundo Débora Valadão, o fator sono precisa ser mencionado – e destacado – diante da realidade imposta pela tecnologia.  

Ficar no celular até de madrugada pode parecer inofensivo, à primeira vista, mas do ponto de vista biológico esse hábito afeta um dos marcadores do envelhecimento precoce: a melatonina.  

“O sono é fundamental quando se pensa em saúde ovariana. A melatonina, que é o hormônio produzido durante o sono, é um dos principais antioxidantes do ovário”, detalha a nutricionista.  

Além de se ater ao horário de ir para a cama – e sair dela – é essencial ficar atenta à balança. Não por uma questão estética, mas fisiológica, já que o início do ciclo reprodutivo da mulher é diretamente influenciado pelos dígitos na balança.  

De acordo com Débora, o peso é um dos fatores que determinam a idade com que a menina terá sua primeira menstruação, também chamada de menarca.  

A especialista reforça ainda que a opção por um estilo de vida que não beneficie a saúde mitocondrial – provavelmente – irá resultar numa maior dificuldade para gestar, em obstáculos na fase reprodutiva e também na potencialização de sintomas da menopausa. 

“De forma geral, se a gente tem excesso de carboidrato, de gordura saturada, falta de antioxidantes, tudo isso prejudica a saúde ovariana. E quando essa mulher passa pela fase reprodutiva e chega na menopausa, ela tem muito mais sintomas”, conta. 

 

Saúde mitocondrial  


Essencial para a produção de energia das células, a mitocôndria é uma organela também ligada à longevidade – graças à capacidade de ativar o sistema imunológico e da habilidade de gerir os radicais livres.  

Profunda conhecedora do universo mitocondrial, a nutricionista Alessandra Feltre elegeu três medidas simples e eficientes para a regulação das organelas: 

  • Reduzir excesso de carboidratos refinados; 
  • Reduzir exposição tóxica, como alimentos ricos em agrotóxicos, bebidas alcoólicas e estimulantes (como excesso de cafeína); 
  • otimizar a entrega de antioxidantes e anti-inflamatórios pela alimentação.  

Na prática, isso se traduz em pequenos hábitos inseridos no cotidiano, como a prática de tomar chás de cúrcuma, canela e manjericão – o último, embora pouco habitual, tem grande potencial anti-inflamatório.  

Já em relação aos alimentos, a alternativa é investir nos chamados alimentos sazonais.  

“Alimentos sazonais têm menos agrotóxico porque a natureza está oferecendo eles naquela época, demandando menos agrotóxicos e fertilizantes”, explica Alessandra.  

Uma vez que nem todos os nutrientes podem ser supridos apenas com a alimentação, a nutricionista sugere suplementar: ômega 3, magnésio, coenzima Q10 e vitaminas do complexo B

O olhar atento a esses detalhes permite “interferir” positivamente no relógio biológico.  

“Quando você mantém a saúde ovariana, você tem a oportunidade de atrasar a menopausa porque você ainda produz hormônios equilibradamente. É sobre isso que estamos falando, do porquê manter a saúde mitocondrial”, enfatiza Alessandra.  

Repetição do bem  


Os hábitos são responsáveis por orquestrar a saúde. Quanto mais cedo os ajustes são feitos na rotina, maiores os benefícios para a mulher.  

A especialista frisa que a mulher não tem escolha. Se ela não decidir alimentar-se bem, movimentar-se, dormir bem e cuidar do intestino até os 35 anos, chega uma hora que essa mulher não terá escolha, porque, ela tende a adoecer.  

“Ela vai ser surpreendida com tudo isso que escutamos sobre menopausa, as doenças cardiovasculares, a dificuldade de aprendizado, de memória, fadiga, cansaço, perda muscular, saúde óssea sendo comprometido, os suores, os fogachos… a gente vê na prática clínica que a mulher que se cuida, alimenta-se bem e cuida desses pilares importantes – isso reduz os impactos do declínio significativo dos hormônios”, destaca Alessandra.  

Baseada nessa certeza, a nutricionista defende que o conjunto de boas escolhas alimentares, sono de qualidade e a atividade física são três dos pilares fundamentais para a construção de um eixo hormonal saudável que resultará numa vida inteira – para além do ciclo reprodutivo – mais plena e passível de ser desfrutada com completude. “Temos que ver a atividade física como um nutriente indispensável, porque ele também vai conferir os mesmos efeitos do estradiol, e também é um protetor da saúde muscular, óssea e mental”, finaliza.  

Bom lembrar  


A vida reprodutiva da mulher é o período entre a primeira e a última menstruação.  

Durante esse intervalo, todos os meses, o ovário libera um óvulo que pode ser, ou não, fecundado, dando início a uma gestação.  

Limitada, a quantidade de óvulos de cada mulher já vem determinada desde o nascimento – um estoque sem reposição.

  

Por isso, há uma série de cuidados, que começam ainda na adolescência, considerados fundamentais para o desenvolvimento de um eixo hormonal saudável que beneficie tanto uma futura gestação quanto a saúde reprodutiva, diminuindo os riscos do desenvolvimento de doenças como a síndrome do ovário policístico.  

Os pilares da saúde mitocondrial, intimamente ligada à saúde ovariana, são a alimentação anti-inflamatória, o sono de qualidade e os exercícios físicos.  

Hábitos válidos para todos os gêneros, citados como as bases da Medicina do Estilo de Vida.  

Interligadas a todas as funções biológicas, as escolhas diárias ditam o futuro que a mulher terá – tanto na vida reprodutiva, quanto na saúde como um todo. Um incentivo às boas escolhas!