Microbiota: sua identidade revelada pelo intestino

“Cada microbiota intestinal é como uma impressão digital”. A frase usada pela nutricionista funcional, Mel Domingues, ilustra quão único é cada organismo e o quanto o intestino pode revelar sobre a identidade individual. 

Enquanto você faz suas atividades cotidianas, dentro da sua barriga, envoltos por um conjunto de trilhões de bactérias, os neurônios do intestino trabalham ativamente como uma espécie de laboratório químico: cerca de 95% da serotonina do corpo humano é produzida ali. E essa é só uma das funções desempenhadas pela microbiota. 

Logo, se você tem alguma doença ou disbiose intestinal, o corpo inteiro sofre. Lógica que se aplica às saúdes física e mental.   

Diversos estudos científicos relacionam as patologias gastrointestinais, como a Síndrome do Intestino Irritável, às questões emocionais, provando a potência da conexão do eixo intestino-cérebro no equilíbrio do organismo. 

Trato digestivo 


O sistema digestório é o mais extenso do corpo humano – da boca ao reto -, e a eficiência de tudo que ocorre nesse percurso depende de uma série de fatores, como o estresse, mencionado acima, mas também de detalhes simples, como a mastigação.  

“O paciente que não mastiga bem tende a ser constipado”, exemplifica a nutricionista. Mel conta que, na prática clínica, é comum notar os desdobramentos da reação fisiológica: quando o alimento chega ao estômago em pedaços muito grandes, o estômago precisa fazer um esforço muito maior para dissolvê-lo e o resultado são transtornos digestivos.  

A saúde bucal, a atenção ao momento da refeição e a dedicação à quantidade de vezes que o alimento deve ser mastigado antes de ser engolido fazem parte de um check list básico que garantem a eficiência da digestão.  

Estudos sugerem, inclusive, que completar o processo de mastigação ajuda na sensação de saciedade.  

Já a recorrência na ingestão de alimentos pouco mastigados mantém o sistema imunológico ativado. Segundo Mel, é como se o corpo entendesse que precisa se defender contra o pedaço grande de comida, encarado como um agente invasor.  

Com isso, as células de defesa, ativadas constantemente, fazem com que as vilosidades do intestino delgado sejam destruídas ao longo do tempo, impactando na absorção dos nutrientes. Em casos mais graves, um desdobramento podem ser as doenças autoimunes.   

Alerta  


Os sinais de que algo não vai bem são facilmente identificados. 

 

O desequilíbrio entre as bactérias que compõem o microbioma podem causar a inflamação do intestino, causando sintomas clássicos como náuseas, gases, vômitos, azia, diarreia ou prisão de ventre. A longo prazo, os reflexos têm impacto mais significativo, resultando em intolerância à lactose e/ou glúten. 

Para identificar a causa do mal-estar gastrointestinal é preciso investigar o paciente – do histórico familiar à alimentação e hábitos. Isso porque o estilo de vida está diretamente ligado à saúde intestinal.  

Não basta tirar da dieta alimentos potencialmente inflamatórios. É preciso olhar para a individualidade de cada paciente. Mel conta que tem vários pacientes que chegam ao consultório com queixas provenientes de dietas detox, em que determinados alimentos foram tirados do cardápio, sem orientação profissional, por meses a fio. 

 

O resultado é o desequilíbrio que leva ao quadro de disbiose intestinal. 

Por isso, Mel defende que a anamnese – que é a primeira grande “entrevista” que o médico faz com o paciente, a fim de compreender a complexidade do caso, incluindo sintomas, queixa principal, histórico familiar, entre outros detalhes – se faz uma das principais ferramentas para o sucesso do tratamento. 

Dessa forma, chega-se a outro ponto em comum entre os diagnósticos: o estresse. Alterações e gatilhos emocionais podem ser o pontapé inicial para o desenvolvimento de patologias resultantes do desequilíbrio da microbiota intestinal.

Solução


“A conclusão é simples: mente sã, corpo são, alimentação saudável e atividade física obrigatória. A atividade física melhora o sistema gastrointestinal, melhorando a oxidação celular e o sistema de absorção”, resume a nutricionista. 

Sobre o plano alimentar, Mel reforça que frutas, verduras e legumes são essenciais, assim como os carboidratos e outros grupos alimentares que compõem um prato equilibrado. 

Cortes, vez ou outra, são necessários. Nesses casos, a prioridade é para os itens que a literatura médica identificou como inflamatórios, a exemplo do glúten e da lactose. Porém, não há fórmula pronta. A avaliação da realidade individual deve ser a linha guia da mudança. 

  

“O mais importante é entender o que funciona pra você. O que você se sente bem? Se tudo te faz mal, não é que você precisa eliminar tudo. O caminho é aumentar a impermeabilidade intestinal de forma saudável e melhorar a absorção da microbiota”, conclui.