Acerte as contas com o organismo: 4 dicas para fazer um detox pós-festas 

Caso a vida fosse literatura, as festas de fim de ano seriam a licença poética para a rotina. 

Entram as férias, saem as restrições. Quando não, os cardápios nutricionalmente equilibrados são substituídos pelo rocambole da tia, o pudim da avó, o pão caseiro da mãe, entre outros pratos para os quais é impossível dizer não.  

“E está tudo bem”, lembra a nutricionista Alessandra Feltre.  

Trata-se da exceção consentida, aquela para a qual especialistas da área já estão preparados. Inclusive, com as orientações de como intensificar a desintoxicação do organismo depois da comilança – e das bebidas a mais que usual nessa época do ano.

Ajuda bem-vinda  


O corpo é sábio e, diariamente, trabalha para eliminar as toxinas que ingerimos em forma de alimentos ricos em calorias vazias, ou seja, detox natural. 

 

É o sistema detox de fábrica, o processo fisiológico que ocorre 24 horas num esforço conjunto para garantir a homeostase, como é chamado o equilíbrio do organismo.  

Entram nessa frente de trabalho os sistemas linfático dos rins e hepático, que se relaciona intimamente com o digestivo – que tem como protagonista o intestino, responsável pela produção de substâncias importantes, como a serotonina. 95% do hormônio do bem-estar é produzido no trato gastrointestinal.  

“Esse processo de limpeza se utiliza de várias enzimas que são proteínas que vão fazer a quebra dessas substâncias. É como se eu tivesse um colar de pérolas e fosse separar esse colar nas suas contas. Isso facilita a eliminação dessas substâncias, seja pela bile, quando essas substâncias são solúveis em gordura ou pela urina quando ela é solúvel em água. Além disso, a gente pode também diminuir a carga dessas substâncias através da sudorese”, detalha a médica especialista em gastroenterologia, Denise de Carvalho.  


Água para que te quero  


A palavra-chave da recuperação do período pós-festas é a hidratação.  

Como a demanda por água aumenta durante a eliminação das toxinas, repor o líquido se faz fundamental. Segundo a especialista, a ênfase é para quem bebeu um pouco a mais.  

Além da água, a lista de recomendações para otimizar o detox inclui noites de sono reparador e atividade física. 

 

Na alimentação, o consumo de alimentos que são fontes de fibras deve ser intensificado, uma vez que elas também ajudam a eliminar as toxinas pelas fezes.  

“A fibra junto com a água ajuda a manter a evacuação, que é uma forma de detox. Se a gente não evacua com regularidade, a gente também represa esse material dentro dos intestinos”, detalha Denise.  

Impacto da idade  


Quanto mais velho você estiver, maiores as chances de demorar para se recuperar dos exageros. 

 

Não é só uma sensação. Segundo a gastroenterologista, com o passar dos anos, a tendência é de que as toxinas passem a ser armazenadas no tecido adiposo e até nos ossos. O que explica o mal-estar prolongado.  

Explicação que inclui o efeito mais potente das bebidas nas mulheres: o álcool é hidrossolúvel, não lipossolúvel.  

“A mulher tem uma capacidade menor de suportar o álcool justamente porque ela tem mais gordura corporal que o homem. Então, doses menores de álcool para as mulheres causam os mesmos efeitos de doses maiores nos homens”, pontua.

  

Efeito desigual 


Mas, por que alguns homens bebem o mesmo tanto que outros e têm reações – e um tempo de recuperação – diferentes?  

A resposta está numa variação genética na ação de enzimas que trabalham na metabolização do álcool, chamada lentificação.  

Um dos metabólicos intermediários do álcool é o acetato aldeído, substância neurotóxica que causa fadiga, altera o funcionamento do sistema imunológico e tem impacto direto sobre a mucosa do estômago – que leva ao desenvolvimento da gastrite. 

 

Segundo a especialista, os estudos apontam que cerca de ⅓ da população brasileira apresenta a lentificação, que se veste, popularmente, de ressaca prolongada.  

“É aquela pessoa que bebe hoje, fica dois, três dias se sentindo mal, é aquela pessoa que não produz direito, ela tem um certo brain fog, o sono fica ruim, então isso é como se fosse uma intoxicação mesmo”, explica Denise. 

 

Antes acompanhado  


Melhor revestido de enzima digestiva do que só.  

No caso do estômago, a companhia das enzimas é uma alternativa para minimizar os impactos da alimentação em livre demanda. 

 

As enzimas nada mais são que proteínas atuantes na quebra das moléculas de macronutrientes em pedaços menores, como as dos carboidratos, gorduras e outras proteínas. 

Mas, atenção: para que elas cumpram sua função é preciso estar com as vitaminas em dia.  

“Todas as enzimas precisam de nutrientes para serem formadas e para terem a sua ação catalisada. Então eu vou precisar de vitaminas do complexo B disponíveis, principalmente a B9 (o ácido fólico na forma ativa, de preferência ao metilfolato), a B6, a B12, – principalmente a tiamina, é muito importante também para a formação do ácido gástrico -, o magnésio, o zinco e principalmente a colina. A colina é muito importante para a formação da bile”, orienta Denise.  

Aproveite! 


Vale para as férias, vale para eventos que são únicos na agenda: divertir-se com moderação pode até ter custo para o corpo, mas faz um bem imensurável para a alma.  

“Se fizer direitinho, hidratando, comendo bem fora da festa e procurando alimentos ricos e densos nutricionalmente, bebendo bastante líquido e aproveitando também tem toda a questão das endorfinas sendo produzidas. Está feliz? Você está com a sua família? Então o saldo é positivo. Não é pra ninguém deixar de festejar por conta disso, é só ter responsabilidade”, finaliza. 

Bom lembrar  


Festar é bom, mas voltar à rotina é melhor ainda.  


Retomar a dieta, os treinos e o cotidiano de hábitos saudáveis está no script pós-férias de todo mundo que retorna ao habitual calendário.  

O corpo não tira férias. Enquanto a alimentação e os horários saem do vivido diariamente, o organismo trabalha 24 horas para a manutenção do equilíbrio.  

Mas, no retorno ao ritmo da vida real, o ideal é adotar algumas medidas simples para otimizar a recuperação. 

 

Beber água em abundância, ingerir fibras, investir nos exercícios físicos e dormir bem são as recomendações da médica gastroenterologista Denise Carvalho para acertar as contas com o organismo e voltar com o pé direito para o cotidiano disciplinado.