Projeto Vida Toda: invista num corpo que dure mais que um verão

Qual mulher adulta nunca viu ou brincou com uma Barbie? Loira, alta, magra, com silhueta curvilínea, a boneca, criada na década de 50, fez parte da infância de gerações inteiras e povoou o imaginário feminino com um ideal de beleza aquém da realidade.  

Fosse de carne e osso, a mulher-brinquedo teria 1.78m de altura, 41 kg e 34 centímetros de cintura. Medidas irreais até num mundo de brincadeira.  

Só que essa versão numericamente questionável permeia o inconsciente popular como símbolo de beleza e, se o padrão até passa despercebido em outras épocas do ano, ele volta em desejos relatados aos nutricionistas na época em que se engatilha o “Projeto Verão”.  

Numa década com mais massa magra, em outras, com menos, a busca nos consultórios médicos varia conforme os ideais de beleza de cada época, mas a magreza sempre está no pano de fundo da imagem idealizada.  

Segundo a nutricionista, especialista em terapia do comportamento alimentar, Roberta Carbonari, é como se o emagrecimento fosse sinônimo de felicidade.  

Os conceitos parecem estar tão interligados, que um tira o foco do outro.  

Tanto que, numa comparação entre as buscas dos termos no Google, em 2019, por exemplo, 112 mil pessoas pesquisavam sobre emagrecimento enquanto apenas 23 mil focavam na felicidade.  

“Existe uma supervalorização do quanto a estética pode fazer alguém feliz, sem entender que essa insatisfação leva a restrições alimentares severas e a um nível de estresse que fisiologicamente também é insuportável”, explica Roberta.   

Busca inalcançável 


Os obstáculos dos projetos sazonais de mudanças no corpo são, justamente, a sazonalidade aliada ao fato de as pessoas buscarem o emagrecimento com base no peso que veem na balança e não na composição corporal.  

“Elas buscam estar mais leves ao invés de estarem, de fato, mais magras”, pontua a especialista.  

Para isso, segundo Roberta, o primeiro passo adotado por 92% das pessoas é a restrição alimentar – nem sempre acompanhada por um profissional da saúde.  

Feito de maneira extrema e sem orientação,  o corte de determinados grupos alimentares desencadeia uma série de reações metabólicas e frustrações – entre as quais se destaca a compulsão alimentar que está constantemente associada à restrição.  

“Nem toda restrição alimentar vai levar a um transtorno de compulsão alimentar. Mas episódios de compulsão ou descontrole podem ser conduzidos por gatilhos muito comuns na busca pelo corpo do verão”, desmistifica.  

Pesquisadores conduziram um estudo no qual é possível entender a relação entre a diminuição pontual de certos itens no cardápio e a vontade exagerada de comê-los.  

O estudo foi realizado com ratos, divididos em dois grupos, expostos a situações de estresse.  

Os integrantes de um dos grupos foram submetidos a uma restrição alimentar prévia à ocasião que gerou a frustração. Os outros, não.   

Depois de 4 dias vivenciando situações estressantes, os pesquisadores fizeram uma série de intervenções e testes.  

Num determinado momento, eles colocaram, na gaiola, gotas de chocolate e pasta de amendoim a fim de acionar as memórias multisensoriais. Por 15 minutos, os animais só podiam observar os alimentos. Depois, o acesso foi liberado por outros 15 minutos. 

Os resultados revelaram que os integrantes do grupo que passou por restrição alimentar teve, sim, ingestão aumentada de doces – especialmente as mulheres.  

No entanto, por sua vez, o grupo que não passou por restrição alimentar, consumiu uma quantidade muito maior – comportamento que caracteriza a compulsão.  

Roberta Carbonari faz um paralelo com Projeto Verão, em que indivíduos que passam 300 dias por ano sem cuidar da alimentação decidem se submeter a 65 dias de privação intensa, justamente na época em que todos os demais estarão comendo livremente nas férias e festas de fim de ano.  

Efeito contrário 


A mudança na alimentação, que deveria ser motivada pela busca por saúde, quando frustrada – tanto pela manutenção da restrição quanto pela incapacidade de mantê-la durante as festanças – surte um efeito contrário, aumentando a liberação de cortisol no organismo.  

É cientificamente comprovado: jejum e dietas extremamente restritivas induzem agudamente os níveis de cortisol sérico. Estresse extra – e desnecessário – que vem num momento que deveria ser marcado pela felicidade.   

“Junto a esse processo de não melhorar a alimentação ao longo dos 300 dias, ‘mas nesses próximos dois meses eu preciso fazer alguma coisa’, e ainda com um objetivo deturpado, vem a frustração. Existe uma crença ao passar por todo esse processo de que você falhou. Essa frustração acontece próximo ao verão, no momento em que você deveria estar de férias, curtindo, se divertindo”, avalia Roberta.

  

Alternativas 


Sem mágicas, segredos ou mistérios, a solução mais prática para aumentar o gasto calórico sem precisar cortar drasticamente nenhum alimento é o exercício físico.  

Mas, não apenas nos dois meses antes do verão. A mudança, que começa aos poucos, precisa ser constante, gradativa e sustentada com leveza até que se transforme num estilo de vida que ocupe os 365 dias do ano – e não apenas os 65 que antecedem o réveillon.

  

Esse é apontado como o melhor caminho para ter – mais que um corpo de verão – um corpo saudável, preparado para ir à praia ou ao campo ou ao trabalho ou a qualquer lugar, o ano inteiro.  

“Não existe um corpo que possa ir à praia todos os anos, por muitos anos, se esse corpo não for bem cuidado, e isso não tem a ver com o volume que o seu corpo tem, com o manequim que você usa e nem com o peso na balança. Isso tem a ver com a sua composição corporal, com a sua saúde mental e com as suas escolhas de vida”, finaliza Roberta.   

Bom lembrar  


Com o fim de ano vêm as festas de Natal, Ano Novo e, com elas, o Projeto Verão – a tentativa de recuperar, em dois meses, os excessos cometidos ao longo dos dez meses anteriores.  

Motivados por padrões irreais, homens e mulheres investem em dietas extremamente restritivas que, invariavelmente, levam a quadros de compulsão alimentar e níveis altíssimos de estresse e – possível – frustração a curto prazo.  

Isso porque, segundo estudos científicos, cortes radicais de grupos alimentares causam danos metabólicos, aumentando o nível de cortisol, conduzindo ao estresse e incapacidade de manter o radicalismo por muito tempo.  

A alternativa para esse projeto é a adoção de um estilo de vida saudável que dure 365 dias e que colabore, mais que para um corpo do verão, para um corpo do ano inteiro.  

“Um corpo de praia deveria ser um corpo que é capaz de correr com os nossos filhos, um corpo que é saudável o suficiente pra entrar na água e sair com força, um corpo que é capaz de se divertir, um corpo que é capaz de caminhar na praia, sentir a areia nos pés e entrar no mar, com seus amigos, sorrindo. Um corpo perfeito de verão é um corpo que usufrui do verão, sente o sol na pele e consegue fazer isso estando extremamente confortável dentro dele”, conclui a nutricionista, especialista em terapia do comportamento alimentar, Roberta Carbonari.  

 

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