Camaleônico, fluido, potente e sagaz, o cérebro humano dança conforme a música.
Movimenta. Muda. Adapta. Molda-se às novas experiências. Quando desafiado, diante de um ensinamento, se desenrola.
Fosse arte, seria como as obras do artista americano contemporâneo Daniel Wurtzel: esculturas desenhadas no ar, nada estáticas, adaptáveis ao vai-e-vem dos ventos.
Só que o vento, no caso do sistema nervoso, pode ser um exercício físico, um curso de línguas, uma música desconhecida e até um novo sabor.
Esse potencial adaptativo é chamado pela ciência de neuroplasticidade: a capacidade do cérebro de se reprogramar.
“A neuroplasticidade nos permite entender a capacidade cognitiva que o nosso cérebro tem de mudar parâmetros estabelecendo ou restabelecendo suas respostas diante de estímulos, mudanças ambientais e até mesmo traumas”, explica a médica psiquiatra Laís Cesar.
Primeira infância
Os primeiros anos de vida são os mais intensos em termos de aprendizado. O cérebro é provocado incessantemente por informações novas: palavras, sabores, movimentos.
A plasticidade cerebral impulsiona a rápida formação de sinapses. Até os dois anos de vida a média é de 600 a 800 novas conexões por segundo – um terreno fértil para o conhecimento.
Isso porque todas as vezes em que há o contato com algo novo, seja uma informação ou sentimento, as sinapses entre os neurônios são fortalecidas, ampliando a área ativa do cérebro.
Esse primeiro estágio do desenvolvimento cerebral é chamado de plasticidade axônica e vai do nascimento até os dois anos completos da criança.
Além dessa, há outros quatro tipos de plasticidade: dendrítica, somática, sináptica e regenerativa. Todas dizem respeito à habilidade de adaptação cerebral.
Full time
Embora a etapa mais intensa ocorra logo no início da vida, o cérebro segue se adaptando com o correr dos anos.
“O sistema nervoso não tem uma estrutura rígida e imutável, como se pensava há algumas décadas. Ele modifica a sua estrutura funcional sob determinadas circunstâncias, expressando uma capacidade plástica durante os processos de adaptação”, conta a especialista.
A maestria em se reinventar é comprovada por exames de imagem, que já mostraram que a plasticidade do cérebro pode ser alterada, inclusive, por fatores como ambiente, estado emocional e nível cognitivo.
Segundo Laís, a neuroplasticidade atua também na formação de hábitos, como se estivéssemos ensinando nosso cérebro como se comportar melhor. “Com isso, é possível adaptar o paladar e se acostumar com o gosto de alimentos saudáveis”, exemplifica.
Estimular a neuroplasticidade é uma opção que potencializa as capacidades intelectuais, aumenta a reserva cognitiva e mantém as pessoas ativas por muito mais tempo.
Exercite o seu cérebro
Há várias formas de reprogramar a sua mente e exercitar as conexões neurais. Basta encontrar uma atividade que se encaixe no seu perfil:
– começar um novo curso;
– aprender algo que você nunca fez;
– ler sobre temas com os quais você não está habituado;
– praticar exercícios físicos;
– aprender novos movimentos com o seu corpo;
– experimentar sabores diferentes e, de preferência, saudáveis;
– ir por outro caminho para o trabalho, estimulando o cérebro a gravar novas rotas;
– ouvir músicas desconhecidas.
A lista é infinita e o critério principal para usar a neuroplasticidade é investir em atividades que estejam fora da sua zona de conforto.
Bom lembrar
O cérebro é adaptável e segue em constante aprimoramento.
Cientificamente conhecida como neuroplasticidade, essa habilidade é responsável pela capacidade humana de permanente aprendizado.
Para estimular sinapses, sair da zona de conforto se faz necessário.
Invista em cursos, atividades novas e até uma receita diferente ou música desconhecida para exercitar seu cérebro e aproveitar o potencial da sua mente.