Viciado, eu? Saiba o que o açúcar e as drogas têm em comum


Ansiedade, irritação, confusão mental, cansaço. Os sintomas fazem parte do diagnóstico da abstinência de álcool e de drogas. As mesmas sensações podem ser sentidas por quem decide parar de comer doces. 

Isso porque, segundo estudos*(A), o açúcar age diretamente no sistema de recompensa do cérebro. 

Projetado para premiar o indivíduo todas as vezes em que ele faz algo que estimula a própria sobrevivência, esse sistema libera substâncias químicas relacionadas à sensação de prazer. 

Entre essas substâncias está a dopamina*(B), um neurotransmissor que atua no sistema nervoso central e que é conhecido como o “hormônio da felicidade”, por influenciar diretamente no humor. 


É vício?


Tal qual ocorre com os vícios, a dependência do açúcar leva à necessidade de doses constantes para gerar a sensação de satisfação. É um mecanismo cíclico: quanto mais você consome, mais precisa consumir. 


A explicação científica é simples: quando você repete a ingestão de algo que provoca prazer, os receptores de dopamina podem diminuir. Essa é uma artimanha do cérebro para tentar restabelecer o equilíbrio químico do corpo. 

Só que com menos receptores ativos, é preciso mais estímulo – ou seja, maior ingestão de açúcar – para ativar a dopamina, essa resistência é o que a ciência chama de tolerância. 


Tanto a tolerância quanto a abstinência levam pesquisadores mundo afora a afirmarem que o açúcar pode, sim, causar dependência química em determinados indivíduos *(C)


Fome emocional


Desejar um brigadeiro no meio da tarde, pensar incessantemente na fatia de red velvet cake da sua confeitaria favorita ou entrar no aplicativo de restaurantes para pedir aquela sobremesa que você não consegue tirar da mente não são comportamentos ligados à fome. 

Segundo a ciência, as vontades repentinas podem estar relacionadas a quadros da saúde mental, como ansiedade, depressão ou estresse*(D).


Acostumado com o efeito da dopamina assim que recebe o alimento desejado, o cérebro responde a qualquer gatilho – pode ser um foto no feed do seu Instagram, um comercial de tevê e até mesmo o cheiro da máquina de cappuccino. Os estímulos sensoriais são o start para o mecanismo de recompensa, que ativa a busca da sensação imediata de prazer. 


Não se trata do corpo sedento por algum nutriente, é apenas um movimento inconsciente direcionado pelo vício em doces fazendo com que você tente preencher vazios emocionais com a felicidade momentânea causada pelo açúcar.


Truque


Superar o vício em açúcar está intimamente ligado à mudança no estilo de vida e, sobretudo, à forma de enxergar a alimentação. Mas há alguns alimentos que são aliados nessa batalha. 

Frutas – ricas em frutose, que é um tipo natural de açúcar, as frutas oferecem a sensação de bem-estar aliada à ingestão de fibras e demais nutrientes que, além da saciedade, têm efeito antioxidante e antiinflamatório.*(E)


Grãos integrais – associado à longevidade, o combo de fibras e nutrientes (como vitamina B, magnésio, ferro, fósforo, manganês e selênio) proporcionado pelos grãos integrais é uma ótima pedida para driblar a vontade de comer doces*(F)


Aveia e castanha – fontes de triptofano, os dois alimentos reduzem o desejo por açúcar porque agem na produção de serotonina *(G), diminuindo o estresse e a ansiedade. 


Bom lembrar


O açúcar atua no sistema de recompensa do corpo e produz efeitos similares ao de outras drogas viciantes. 

O desejo incontrolável por doces pode estar ligado também à fome emocional, um mecanismo que leva o indivíduo a buscar no alimento a solução para sentimentos de tristeza ou ansiedade. 


A melhor maneira de driblar um cérebro dependente da dopamina liberada pelo açúcar é a mudança do estilo de vida, a adoção de uma dieta rica em alimentos que proporcionam saciedade e a supervisão profissional. Procure um nutricionista e um psicólogo para traçar a melhor estratégia para substituir o açúcar por outros prazeres da vida. 


*(A) Sugar Addiction: Da evolução à revolução – PMC (nih.gov) 

*(B) https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/15877719/ 

*(C) Evidência para o vício em açúcar: Efeitos comportamentais e neuroquímicos do consumo excessivo de açúcar intermitente – PMC (nih.gov) 

*(D)Comportamentos de Estresse e Alimentação – PMC (nih.gov) 

*(E) Benefícios para a saúde de frutas e hortaliças – PubMed (nih.gov) 

*(F) O consumo integral de grãos altera a microbiota intestinal e a saciedade? – PMC (nih.gov) 

*(G) Uma revisão sistemática do efeito da suplementação l-triptofano no humor e funcionamento emocional – PubMed (nih.gov) 

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