Maltodextrina, dextrose, glucose, sacarose. Parafraseando Cazuza, a indústria poderia se declarar para o açúcar, cantarolando: “eu protegi teu nome, por amor, em trinta e cinco codinomes, beija-flor”.
Só que nessa versão da composição, adaptada à vida real, é o consumidor quem dança ao escolher produtos tão carregados de glicose quanto aqueles cuja embalagem denuncia a presença do açúcar logo de cara, na lista de ingredientes descrita no rótulo.
O açúcar, mascarado em nomenclaturas diversas, é assunto de saúde pública. Mais especificamente, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária*(A), que – atenta à confusão causada pelos nomes técnicos – determinou a mudança no padrão das embalagens.
A partir de outubro de 2022, a parte da frente dos rótulos trará um selo com a indicação da presença dos três nutrientes mais danosos ao organismo – e amplamente distribuídos nas prateleiras brasileiras: o sódio, a gordura saturada e o açúcar.
De olho no rótulo
Embora uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba tenha revelado que 69% dos brasileiros leiam as letras pequenas da embalagem, a maioria dos entrevistados assumiu que só presta atenção na data da validade e na quantidade de calorias.
Ciente disso, a ANVISA determinou que, ainda esse ano, seja possível descobrir – ao bater o olho no produto – se ele é muito açucarado, por exemplo. Isso acontecerá por meio de uma indicação clara, com as palavras exatas: alto teor de açúcar adicionado. A medida adotada pela agência regulatória para atribuir o selo do excesso de glicose é que o alimento tenha mais de 15% de açúcar na composição.
Zero açúcar
É a boa fé, e o desconhecimento sobre a diversidade de nomes dados à glicose, que leva o consumidor a investir em produtos denominados zero açúcar.
Só que um dos componentes presentes nessa categoria é a maltodextrina – um carboidrato, com capacidade de adoçar, sim, mas que causa no organismo o mesmo efeito que o açúcar, ao acionar a mesma via metabólica.
Opção mais saudável
No uni-du-ni-tê da vida adulta nutricionalmente consciente, surgem muitas escolhas. Demerara, mascavo, de coco. Só o açúcar se apresenta com uma dezena de roupagens convidativas para amenizar o amargor – e a sensação de culpa.
No entanto, a nutricionista Roberta Carbonari alerta para o fato de que a diferença entre as categorias de açúcares está apenas no nível de processamento. “Independentemente do quão processado ele é, não pode ser visto como uma fonte de nutrientes”, destaca.
Menos é mais
Fugir do efeito cíclico e viciante *(B) de bem-estar causado pelo açúcar, que é intercalado pelas sensações de sonolência e fome, demanda estratégia e determinação.
A sugestão da health coach e especialista em alimentação, Camila Espinosa, é diminuir a quantidade de açúcar ingerida ao longo do dia, ao invés de substituir a fonte.
Já a nutricionista Roberta Carbonari recomenda experimentar os alimentos ou bebidas que você costuma consumir adoçados, numa versão sem açúcar. Um bom exemplo é o cafézinho depois do almoço. A ideia é provar como se fosse a primeira vez para se acostumar com o sabor que não remete às memórias familiares.
Para a especialista Alessandra Feltre, um bom caminho, paralelo a esse, é o de adicionar outros alimentos ou bebidas mais amargos à dieta. O chá verde ou de boldo e o chocolate 70% são algumas das possibilidades para se adaptar ao novo paladar.
Doce que não é doce
“Você pode acessar um doce sem acessar o açúcar”. A afirmação de Roberta Carbonari soa difícil de acreditar, não é? Na prática, a frase é traduzida por ela em dois possíveis adocicados lanches da tarde:
- banana, cortada ao meio, coberta com quadradinhos de chocolate 70%, levada ao microondas por 40 segundos;
- banana com cacau nibs – que é a amêndoa do cacau, pura e com baixa quantidade de açúcar.
Fique esperto
Se o açúcar aparece entre os primeiros itens do rótulo do produto que você está pesquisando, isso significa que o alimento é constituído, basicamente, de açúcar.
Isso porque há uma regra*(C) que determina que os ingredientes sejam colocados na ordem decrescente, ou seja, o ingrediente presente em maior quantidade no alimento, vem primeiro nessa lista.
Portanto, fique atento às letras pequenas e, acima de tudo, busque alternativas para que a sua alimentação dependa cada vez menos do açúcar – tenha ele o nome que tiver.
*(A)Rotulagem nutricional — Português (Brasil) (www.gov.br)
*(B) Impacto do açúcar no corpo, cérebro e comportamento – PubMed (nih.gov) *
(C)http://www.ccs.saude.gov.br/visa/publicacoes/arquivos/Alimentos_manual_rotulagem_Anvisa.pdf